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Feliz dia das mulheres! E por quê precisamos falar sobre mulheres na ciência?

Por séculos, as mulheres não tinham o direito de estudar. Hoje, conquistamos esse direito e somos mais da metade na porcentagem total de universitários no Brasil. Entretanto, ao seguir a carreira acadêmica (um jeito de se referir a carreira de quem busca produzir conhecimento) a realidade muda. Segundo a UNESCO, no mundo aproximadamente 30% dos pesquisadores são mulheres. E para as que desbravam os laboratórios, há um ambiente hostil, com menos reconhecimento, dinheiro e sem representatividade, principalmente em cargos altos.

 

Crescemos sem ver mulheres cientistas, sem exemplos para seguir, e ouvindo por aí que mulheres são muito "emotivas", não servem para matemática, política, áreas que necessitem de "intelectualidade" e "objetividade". Essa é uma forma eficiente de manter mulheres fora da ciência: você cria desde muito cedo um viés implícito, de que mulheres são menos inteligentes, menos capazes. Para as que escolhem desafiar essa visão, o cenário se repete ao avançar da carreira. Mulheres são minoria entre as palestrantes de Congressos científicos (eventos em que levamos nossos novos trabalhos, resultados e podemos discutir o que cada um faz em seu laboratório). Durante esses eventos, mulheres até perguntam menos que os homens, por sentirem que suas dúvidas são menos relevantes. Nas chamadas "ciências duras", que são representadas pela sigla em inglês STEMM (science, technology, engineering, mathematics and medicine, tradução: ciência, tecnologia, engenharia, matemática e medicina) o cenário da representatividade feminina é ainda pior. Tanto, que cansadas de assistir "Mannels" (painéis de palestras compostos somente por homens), pesquisadoras criaram a "Request Women in STEMM"(Encontre uma Mulher na STEMM), uma plataforma que ajuda a achar econtatar mulheres em diferentes áreas da ciência.

Junte ao machismo incutido em nossos cérebros através do viés implícito com a sub-representatividade ao total desamparo que a escolha de ser mãe tem na ciência. A produção científica muito se assemelha ao mundo privado: a qualidade de um profissional é medida principalmente pelos seus números de produção. Pesquisas mostram que a produção científica feminina decai muito depois do nascimento do primeiro filho, se recuperando somente após quatro anos. Na hora de pedir bolsas de fomento e concorrer a vagas, isso tem impactos muito negativos e deixa as mulheres para trás. Em premiações, a situação fica ainda pior, mulheres precisam trabalhar em dobro para talvez serem reconhecidas. Tomando o Prêmio Nobel como exemplo, o Oscar da ciência, apenas 53 dos 923 laureados são do sexo feminino. Por anos, poderia se dizer que esse número é em detrimento do acesso tardio que a mulher teve a ciência. Mas em 2019, pleno século XXI, apenas uma mulher foi premiada: Esther Duflo, por seu trabalho em economia. Reforçando a ideia de que mulheres nas "ciências duras", ou STEMM* é "inexpressiva".

 A realidade é que mulheres são tão inteligentes e capazes quanto os homens. E seguiremos lutando por uma ciência com diversidade, com espaço e reconhecimento para mulheres, e também que respeite a maternidade.

Aqui vai uma lista de Mulheres Cientistas VIVAS, no Brasil e no mundo (porque afinal de contas, quando te perguntarem o nome de umA cientista, você deve ser capaz de responder além da Marie Curie e Bertha Lutz).

- Celina Turchi, foi a cientista que esclareceu a associação do zika vírus com a microcefalia, é pesquiusadora na Fundação Osavaldo Cruz em Pernambuco.

- Jaqueline de Jesus e Ester Sabino, biomédica especializada em patologia  e médica especializada em imunologia respectivamente, são as cientistas da Universidade de São Paulo que sequenciaram o genoma do coronavírus que chegou ao Brasil em 48 horas.

- Sonia Guimarães, primeira mulher negra com doutorado em física no país, professora no Instituto Tecnológico de Aeronáutica.

- Helena Nader, biomédica da área de biologia molecular e glicobiologia é pesquisadora na Universidade Federal de São Paulo e foi a segunda mulher a presidir a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

- Márcia Barbosa, é física pesquisadora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pesquisando sobre anomalias da água e como dessalinizar o mar.

- Suzana Herculano-Houzel, neurocientista que estuda formas inovadoras de contar neurônios, e é também muito engajada em divulgar ciência.

- Beatriz Barbuy, astrofísica, livre-docente há mais de três décadas, ajudou a caracterizar algumas das estrelas mais antigas da Via Láctea

- Jennifer Doudna, inventora da tecnologia para edição gênica CRISPR-Cas9

- Praveen Paul, fundadora do Pint of Science! Pesquisadora na área das neurociências

- Cynthia Kenyon, busca a resposta para maior longevidade na biologia molecular

- Nora Volkow, psiquiatra e neurocientista referência na área sobre abuso de drogas e sono, é a atual diretora do Instituo Nacional de Drogas de Abuso (parte dos Institutos Nacionais de Saúde, nos Estados Unidos - NIDA/NIH)

- Nina Tandon, engenheira biomédica, trabalha com reconstrução de ossos através de células

- Sunetra Gupta, infectologista com foco na evolução dos patógenos

UPDATE: ESTE EVENTO FOI ADIADO DEVIDO AO COVID19. Aos leitores paulistanos, haverá um evento sobre o tema "Mulheres na Ciência" organizado pela coordenadora do Pint of Science na cidade de São Paulo. A mesa redonda acontecerá na Cervejaria Zuraffa - Fradique Coutinho, dia 21/03/2020 às 19h. Aguardamos vocês!

Para ler mais sobre:

Levantamento com muito mais de 50 mulheres na ciência http://www.openciencia.com.br/

Alguns dados sobre a carreira científica entre homens e mulheres http://www.generonumero.media/edicao-10/

Você pode ler mais sobre viés implícito em https://www.mulheresnaciencia.org/vies-implicito

Para saber mais sobre como a ciência e começar uma família pode impactar https://www.parentinscience.com/ http://www.generonumero.media/sem-considerar-maternidade-ciencia-brasileira-ainda-penaliza-mulheres/

Sobre mulheres em eventos científicos https://www.theguardian.com/science/2018/apr/24/women-not-getting-a-fair-say-at-academic-conferences-research-reveals

Sobre chamar mais mulheres como palestrantes https://500womenscientists.org/request-a-scientist

Sobre o Nobel https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2019/11/por-que-tao-poucas-mulheres-ganharam-premios-nobel-de-ciencia.html

A Embaixada Britânica reuniu em uma revista sobre https://www.britishcouncil.org.br/sites/default/files/d1_revista.pdf

Dados da UNESCO http://uis.unesco.org/sites/default/files/documents/fs55-women-in-science-2019-en.pdf

Para ouvir: https://open.spotify.com/episode/6qlfFA0fxpgzE7ZsSw2uKu

Para assistir: https://www.youtube.com/watch?v=OTGeSqr-COQ

https://www.srgtalent.com/blog/4-female-scientists-today-who-are-changing-the-world

Outras leituras

http://www.andifes.org.br/mais-mulheres-na-ciencia-um-desafio-de-todos-nos/

 https://www.elsevier.com/__data/assets/pdf_file/0008/265661/ElsevierGenderReport_final_for-web.pdf

https://observatorio3setor.org.br/carrossel/mulheres-na-ciencia-os-desafios-e-conquistas-de-ontem-e-hoje/