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Se 2020 foi o ano do coronavírus, 2021 será o ano da vacina, apesar de muitas terem ficado prontas ainda em 2020. A vacina mais rápida do mundo anteriormente era a da caxumba, que ficou pronta em 4 anos e foi desenvolvida em 1963 pelo médico americano Maurice Hilleman, que chegou a desenvolver 40 vacinas durante sua vida. A vacina da caxumba foi iniciada quando sua filha contraiu a doença, coletou o material e levou ao laboratório.
Em 2020, mais do que a urgência da pandemia, foi o investimento em ciência e tecnologia massivo tradicional e crescente de muitos países ter encontrado incentivos governamentais e algumas patentes modernas esquecidas, que permitiu a rápida pesquisa, testagem clínica e produção de vacinas. A tecnologia inovadora e até revolucionária está na técnica usada pelas vacinas da Pfizer/BioNTech e da Moderna, onde há um pedaço do material genético do vírus (na verdade um código daquela proteína espinhosa, spike) que é carregado para dentro do corpo através um RNA mensageiro sintético coberto por gorduras.
Fonte: G1 - Globo.
Foi Katalin Karikó, cientista Húngara trabalhando nos Estados Unidos, que já em 1990 via no mRNA o potencial de entregar ao corpo fármacos através de ma nova via, mas os órgãos de fomento não concordaram e ninguém forneceu fomento à pesquisa dela o que gerou até o desligamento dela da universidade posteriormente. Katalin não desistiu, e em 2005, junto com o colaborador Drew Weissman conseguiu o experimento que desafiava todas as dificuldades que levavam outros pesquisadores e órgãos a não creditar o mRNA como possível: ele poderia gerar resposta imune e ser neutralizado pelo corpo antes de chegar ao destino final. Mudando uma letrinha do código genético, deu tudo certo! Publicaram, e ficou abaixo do radar. Foram mais alguns anos até que alguns empresários da área biomédica toparam com os trabalhos de Katalin e outros pesquisadores usando mRNA e fundaram a Moderna.
Foto de Katalin Karikó. Fonte: El País.
Mas não foi o fim da luta, nenhuma agência autorizava o uso de mRNA “muito novo” diziam. Foi na corrida da vacina que o mRNA ganhou seu respiro e chance de mostrar a que veio. Além de Katalin, a parceira da Pfizer na empreitada da vacinação, a BioNTech também é assim como a Moderna, uma recente empresa de biotecnologia. A BioNTech é alemã e tem como co-fundador Uğur Şahin e Chritopher Huber e no conselho de membros consta Özlem Türeci, esposa de Şahin. Şahin e Türeci são cientistas e filhos de imigrantes turcos. O casal já tinha experiência com inovação farmacêutica, tendo criado a Ganymed e vendido-a posteriormente para a japonesa Astellas em 2016. Apesar de as vacinas da Pfizer/BioNTech e da Moderna serem semelhantes, afinal ambas trabalham com mRNA, usam diferentes componentes e estruturas e por isso a Moderna pode ser armazenada a -20 graus, mas a Pfizer deve ficar a -80 graus celsius.
Foto de Uğur Şahin e Özlem Türeci. Fonte: The Times.
Enquanto isso, uma boa parte das outras mais de duzentas vacinas sendo testadas utiliza alguma das técnicas já bem estabelecidas de produzir uma vacina: usar um pedaço do vírus, o vírus inteiro e morto ou inteiro e inativado (por radiação ou temperaturas extremas). A vacina do Instituto Butantan junto com a Sinovac, Coronavac, usa pedaços do vírus morto e pode ser guardada em freezer comum de 2 a 8 graus, assim como a desenvolvida pela Universidade de Oxford com a AstraZeneca. As técnicas clássicas foram refinadas com o uso de outros vírus, vetores virais para carregar a vacina. O vetor viral pode ser um vírus inativado ou que não infecte humanos. Esse é o caso da vacina da AstraZeneca, que utiliza de adenovírus que causam gripe em macacos. A vacina russa, Sputnik V também usa um adenovírus que causa a gripe comum, e os desenvolvedores da vacina inglesa AstraZeneca se interessaram por explorar o uso de um componente da vacina russa. Como exemplo de vacina com vírus inteiro inativada, temos a recente vacina da empresa indiana Bharat Biotech junto com o Conselho Indiano de Pesquisa Médica, a “Covaxin”, que se mostrou segura ao usar o SARS-CoV2 inativado quimicamente, e eficaz. Assim, tanto as tecnologias inovadoras quanto as técnicas clássicas revisitadas se mostraram seguras em testes clínicos e a cada semana, uma nova empresa anuncia suas taxas de eficácia elevada.
Fonte: Espaço Ciência Viva.
Para não dizer que só teremos vencedores, a Austrália teve uma vacina cujos testes clínicos foram encerrados. Era segura, mas utilizava-se de um pequeno componente derivado do vírus do HIV, incapaz de infectar. Porém, os voluntários começaram a apresentar falsos positivos para HIV em testes rápidos. Não haviam sido infectados, mas desenvolveram anticorpos para o HIV. Para evitar maiores confusões, a CSL empresa de biotecnologia australiana que conduzia o estudo junto com a Universidade de Queensland, decidiu por encerrar os testes. Por sorte, a Austrália já havia garantido alguns milhões de doses de outras vacinas como a da Pfizer BioNTech para a população.
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Fontes:
https://www.thelancet.com/journals/laninf/article/PIIS1473-3099(20)30843-4/fulltext
https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(20)32623-4/fulltext
Leitura recomendada: https://www.nature.com/articles/d41586-020-01221-y
Informações sobre armazenamento frio https://www.sciencemag.org/news/2020/11/temperature-concerns-could-slow-rollout-new-coronavirus-vaccines?utm_source=Nature+Briefing&utm_campaign=89f409502e-briefing-dy-20201118&utm_medium=email&utm_term=0_c9dfd39373-89f409502e-44809409
https://www.pharmaceutical-technology.com/news/bharat-biotech-covaxin-trial/