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Ainda no aguardo das vacinas e sem tratamento comprovado, o melhor remédio é a prevenção. Mas como fazê-la?
As máscaras se tornaram para alguns um objeto aversivo, e para outros um acessório da moda. E claro, como tudo na pandemia foi alvo de conteúdos falsos e versões alternativas. Correu pelo WhatsApp uma suposta notícia de que o uso de máscaras levaria poderia levar a desmaios por diminuir a oxigenação e alterar o pH do sangue, informações essas que são falsas, “a retenção de gás carbônico (CO2) é mínima e não traz nenhuma repercussão clínica, não vai acidificar o sangue, não vai diminuir sua imunidade” afirma Júlio Abreu, Pneumologista e Professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Ainda, Júlio afirma que as máscaras são contraindicadas para crianças com menos de dois anos. Mas logo surgiram versões “mais confortáveis”, porém sem eficácia alguma, caso das máscaras de crochê, tricô, renda, tecidos que possuem furos grandes demais para oferecer proteção, além do uso inadequado, abaixo do nariz ou no queixo. O ideal para garantir a proteção, é que a máscara tenho duas ou três camadas de tecido, com algodão por dentro e poliéster por fora, e uma camada intermediária de algodão ou materiais sintéticos. Rapidamente surgiram também tecidos que prometem neutralizar o coronavírus, as máscaras antivirais. Mas cuidado, há produtos de fato testados e aprovados como aquele impregnadas com prata, testados por exemplo pela UNICAMP. Pesquise sempre antes de comprar. Antiviral ou não, use máscara cobrindo boca e nariz!
O “Shield” ou protetor facial de acrílico, foi adotado por um grupo menor de pessoas, e de fato não possui poder de proteção sem máscaras. O uso de Shield é recomendado para profissionais da saúde durante procedimentos cirúrgicos para proteger principalmente os olhos, e sempre aliado ao uso de máscara.
Fonte: UNIFUCAMP
Além de diminuir as chances de contaminar ou ser contaminado, se descobriu que as máscaras têm ainda outro poder: de reduzir a carga viral. Isso porque a máscara irá “capturar” parte das gotículas de saliva com o vírus, e o contato com uma quantidade menor de vírus gera um quadro assintomático ou leve. Assim, ao usar máscaras, mesmo que não sejam 100% eficazes, quem cair na taxa de falha provavelmente não necessitará de intervenções médicas.
A maior parte dos brasileiros já não está mais de homeoffice (teletrabalho) ou quarentena. Mas vale lembrar que sair não é “tudo igual”, precisamos abandonar o “tá na chuva é pra se molhar”, e adotar uma postura de redução de danos. Existem níveis de risco. Ainda em outubro, Atila Iamarino comentou em uma live sobre sair com cuidado e levar em conta o risco de contágio em diferentes ambientes, de forma que deve-se sempre levar em conta o tempo de permanência, a ventilação do local, a possibilidade de distanciamento ou aglomeração, se irá ficar com ou sem máscara, e o tipo de atividade: ficar em silêncio, conversar, cantar/falar alto, respirar de forma intensa (como em exercícios físicos).
Um grupo de cientistas da Universidade de Stanford nos Estados Unidos publicou recentemente um trabalho analisou dados de movimentação de pessoas e números de contágio, e revelou que o local onde há maior probabilidade de se contrair COVID-19 são restaurantes, especialmente do tipo em que você se senta e há atendentes para as mesas. Em restaurantes, se passa entre trinta minutos e uma hora, em ambiente fechado, sem máscaras, e com circulação dos funcionários e clientes. Também fazem parte do topo da lista de maior risco as academias, cafés e bares, hotéis e motéis, e cultos com mais de 500 fiéis. Além dos motivos já citados, o tom de voz e a respiração “mais forte” são pontos que agregam risco, além é claro da aglomeração. Dessa forma, a recomendação final é que se mantenha a tendência do pão caseiro de quarentena e exercícios em casa ou caminhadas solitárias.
Fonte: Setor Saúde
Outra ferramenta potente, mas mal utilizada são os testes, que podem ser divididos principalmente em dois tipos: a reação de cadeia de polimerase em tempo real (RT-PCR ou simplesmente PCR) e os testes de anticorpos. O PCR é uma análise de laboratório capaz de detectar material genético em uma amostra. Funciona assim: você fornece para o teste uma parte de como é o material que você procura, e o aparelho irá aumentar (amplificar) o material da amostra (nesse caso coletada do nariz e/ou da garganta) várias vezes e procurar se há, e quanto há daquele material genético que você busca na amostra que você forneceu. O PCR é um exame muito preciso, porém só diz se você está infectado no momento da coleta. Se você se infectou há algum tempo e já não apresenta sintomas, ele irá mostrar um resultado negativo, pois não há mais material genético do vírus em seu corpo. É aí que entram os exames de anticorpos ou sorológicos.
Figura com a “curva sorológica” da COVID-19. Título viral é a presença de vírus no corpo. Conforme acontece a produção de anticorpos (chamados de Imunoglobulinas - IgG e IgM) há o fim da presença do vírus, dos sintomas e há a circulação dos anticorpos na corrente sanguínea. Fonte: Clinica RX.
Os exames sorológicos são capazes de detectar se uma pessoa possui anticorpos para um determinado vírus, ou seja, se ela entrou em contato e produziu moléculas para combater o vírus chamadas de Imunoglobulinas ou Ig. Os principais são os testes do tipo “ELISA” que são coletados em hospitais e laboratórios especializados, e os testes rápidos que podem ser feitos em farmácia com uma gotinha de sangue. Os testes rápidos, apesar de atrativos pela facilidade e não necessitarem de indicação médica, não são muito confiáveis: tem baixa precisão, o que significa que erram os resultados com frequência. Por isso, os testes rápidos não costumam ser indicados. A diferença entre o ELISA e os testes rápidos é que no primeiro caso se coleta sangue venoso, “do braço” e a amostra é centrifugada e separada, e se segue em inúmeras diluições e reações específicas que são lidas por um aparelho que avalia a reação colorimétrica que ocorreu, enquanto no teste rápido há apenas a reação de ligação entre o antígeno (vírus) e o anticorpo (que pode estar presente no sangue). Os exames sorológicos podem ainda dizer aproximadamente há quanto tempo a infecção aconteceu, de acordo com o surgimento dos anticorpos.
Imagem de uma placa de um exame do tipo ELISA em andamento. A intensidade da cor é consequência da intensidade da reação, e será lida por um aparelho ao final. Fonte: Biomedicina Brasil.
É por essa complicação na interpretação e limitações dos exames, que não se pode usar resultados de um exame como justificativa para uma aglomeração ou dispensar o uso de máscaras e distanciamento. Um teste PCR negativo só diz respeito ao momento em que o teste foi feito. Se o teste foi feito na quinta e você se infectou na quarta, talvez o vírus ainda não tivesse feito cópias de si próprio suficientes para ser detectável. Se você se contaminou na volta para casa depois de ir ao laboratório, o exame também não mostra. Então o negativo de quinta-feira não é o passe livre para o happy hour da sexta.
Até o presente momento, nenhum medicamento ou combinação de medicamentos se provou eficaz para prevenir a infecção, e as vacinas começam a apresentar agora os resultados das últimas fases de testes clínicos, mas lembre-se que até a vacinação em massa ainda temos que lidar com questões de produção, logística, governo em saúde pública e distribuição, que deve ser focada nos grupos de risco e trabalhadores essenciais. É, parece que Carnaval só em 2022.
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Esse texto foi escrito por Letícia Pichinin, biomédica com especialização em análises clínicas e aluna de mestrado em Psicobiologia na Universidade Federal de São Paulo, onde estuda as alterações no cérebro e no comportamento decorrentes do uso de álcool. Letícia é coordenadora aqui do Blog do Pint e também do Pint of Science na cidade de São Paulo, e foi semifinalista no concurso de divulgação científica FameLab (muito estranho escrever sobre mim em terceira pessoa).
Créditos adicionais: A Victor Hidalgo, jornalista do Jornal Metamorfose pela revisão do texto e dicas. Muito obrigada companheiro!
Fontes:
Esclarecimento sobre máscaras, pelo Professor Júlio Abreu https://www.instagram.com/tv/CCCGNqWBabx/?utm_source=ig_embed
Live do Atila: https://www.youtube.com/watch?v=y9Yw9AcfCDA&feature=youtu.be
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33171481/
https://www.bbc.com/portuguese/geral-54442075 Fonte: Jones NR et al BMJ 2020
Recomendações sobre uso de máscaras https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6194:opas-disponibiliza-em-portugues-novo-guia-da-oms-sobre-mascaras-cirurgicas-e-de-tecido&Itemid=812
Tabela de riscos https://setorsaude.com.br/covid-19-os-diferentes-riscos-conforme-a-distancia-fisica-ventilacao-e-tempo-de-exposicao-ao-virus/
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33171481/