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O que é a COVID-19 e porque lavar as mãos e o distanciamento social são importantes?

Se você ligar a TV hoje, seja no Brasil ou em outra parte do mundo, as notícias essencialmente falam sobre um assunto: o coronavírus. Mas, afinal, você sabe o que é o SARS-CoV-2 e porquê medidas de prevenção como “lavar as mãos” e “distanciamento social” podem ajudar a controlar a sua disseminação?

A família coronavírus é formada por diversos vírus (agentes infecciosos que se multiplicam apenas dentro de uma célula hospedeira) que podem causar doenças em animais e seres humanos. Em humanos, os vírus dessa família provocam infecções respiratórias, sendo que algumas delas são graves como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Severe acute respiratory syndrome ou SARS causada pelo vírus chamado SARS-CoV-1) e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Middle East respiratory syndrome, ou MERS, causada pelo vírus MERS-CoV). Coronavírus que infectam os seres humanos já são conhecidos há algum tempo e o SARS-CoV-2 (que causa a doença COVID-19) é o mais novo deles, identificado pela primeira vez na cidade de Wuhan, na China, em dezembro de 2019.

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(Imagem de vírus da família coronavírus. O nome coronavírus faz referência a “aparência” desses vírus que lembra uma coroa. Fonte: Wikimedia Commons)

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os sintomas mais comuns da COVID-19 incluem febre, tosse seca e cansaço e podem demorar de 1 a 14 dias para aparecer nos pacientes infectados (intervalo conhecido como período de incubação). Em geral, pessoas infectadas manifestam sintomas leves da doença e na maioria dos casos a recuperação se dá sem necessidade de tratamento especial, como a hospitalização. Ainda segundo a OMS, aproximadamente 1 em cada 5 pessoas infectadas pelo vírus desenvolvem sintomas graves e apresentam dificuldade para respirar. Entre as pessoas com maior risco de desenvolver esses quadros graves estão os idosos (acima de 60 anos), os diabéticos, as pessoas com problemas cardiovasculares e respiratórios graves, e indivíduos com o sistema imunológico suprimido (como, por exemplo, pessoas portadoras do HIV ou que tenham passado por  transplantes). Apesar da letalidade (o quanto a doença mata) ser maior em idosos, nos Estados Unidos, 40% das pessoas internadas com COVID-19 tinham entre 20 e 54 anos. No Brasil, dois jovens de 19 e 26 anos morreram esta semana com sintomas do novo coronavírus. 

Até onde sabemos, a transmissão do vírus causador da COVID-19 ocorre principalmente de pessoa para pessoa quando entramos em contato com partículas respiratórias de alguém infectado. Essas partículas saem pelas vias respiratórias e vão para o ambiente quando a pessoa espirra ou tosse e podem ser inaladas ou entrar em contato com boca e nariz de uma outra pessoa que esteja próxima, fazendo com que o vírus entre no seu corpo. As partículas expelidas pelo infectado também podem se acumular em objetos/superfícies. Estudos feitos com coronavírus que infectam os seres humanos mostram que eles podem se manter por até 9 dias em superfícies diversas, sendo que esse tempo de permanência é influenciado por fatores como temperatura e umidade do ambiente. Já outro estudo recente sugere que o SARS-CoV-2 pode se manter em superfícies por horas ou até mesmo dias dependendo do material dessa superfície. 

Quando falamos sobre medidas que podem ajudar a reduzir a disseminação do vírus, duas estão sendo bastante reforçadas pelas diversas autoridades em saúde: 'lavar as mãos com água e sabão' e 'manter distanciamento social'. Mas porquê essas medidas fazem sentido no cenário atual?

'Lavar as mãos com água e sabão' é algo que fazemos (ou espero que façamos) rotineiramente. Quando pensamos em vírus como o SARS-CoV-2, produtos como o sabão atuam desfazendo o chamado envelope viral que é uma estrutura formada por lipídeos e proteínas. Ao destruir essa proteção, o sabão elimina também as proteínas responsáveis pela infecção do vírus nas células hospedeiras. O site VOX disponibilizou um vídeo que ilustra bem como esse processo ocorre.

E os produtos à base de álcool que diversas pessoas têm comprado nos mercados? Esses produtos também podem ser usados para desnaturar as proteínas do envelope do vírus, mas, segundo o CDC (Centers of Disease Control and Prevention) dos Estados Unidos (semelhante à ANVISA no Brasil), precisam conter pelo menos 60% de álcool em sua composição para funcionar. Atenção, o álcool "46°" usado para limpeza, não é capaz de matar o coronavírus.

O 'distanciamento ou afastamento social' envolve um conjunto de ações que busca diminuir a velocidade de disseminação de uma doença contagiosa. Isso é essencialmente feito limitando o número de pessoas com quem você tem contato. Para uma pessoa, o distanciamento social pode ser exemplificado por ações como manter uma distância (de pelo menos 1 metro, segundo a OMS) entre você e outra pessoa (isso diminuiria a chance de você ter contato com aquelas partículas respiratórias que falei acima). Quando consideramos uma comunidade, como a cidade de São Paulo, medidas de distanciamento social incluem o cancelamento de eventos, suspensão de aulas e a adoção do trabalho de casa. Essas são ações que reduzem o número de pessoas se deslocando pela cidade e evita situações em que elas fiquem próximas umas das outras. 

Embora o CDC dos Estados Unidos afirme que as pessoas mais doentes são as mais contagiosas, as pessoas infectadas pelo vírus mas que não desenvolveram sintomas ou que desenvolvem sintomas leves também são consideradas importantes “espalhadoras” do vírus. Alguns estudos na China com grupos pequenos de pessoas avaliaram a contribuição dessas pessoas infectadas mas sem ou com poucos sintomas para a disseminação da doença, sugerindo que elas tenham transmitido o vírus ao entrar em contato com outros. Além disso, um estudo recente que utilizou dados provenientes da China e elaborou modelos matemáticos de disseminação do vírus com eles, sugere que as pessoas contaminadas que tinham sintomas leves ou sem sintomas podem ter contribuído para 79% dos casos confirmados da doença naquela  região.

Assim, apenas isolar as pessoas que apresentam sintomas não é suficiente para controlar a disseminação do vírus. Para visualizar como essas medidas de afastamento social funcionam na prática, o jornal Washington Post criou uma simulação que ilustra como uma doença se dissemina em um local com ou sem essas medidas em ação.

Para finalizar, vale a pena lembrar que é importante se manter informado, pois a cada dia novas informações e medidas são disponibilizadas para nós. Essa é uma doença nova e as pesquisas sobre o vírus e sua transmissão estão sendo feitas nesse momento pelos pesquisadores. Busque informações de fontes confiáveis como a OMS, o CDC e o ministério da saúde, além de estar atualizado quanto às medidas adotadas pela sua cidade e estado. Também avalie com cautela as informações que são repassadas por outros meios, principalmente se elas não apresentam fonte confiáveis, ok? Lembre que histeria não é boa nem necessária, mas saiba que a COVID-19 não é uma gripezinha.

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Este texto foi escrito por uma colaboração com a Mariella. Mariella B. L. Careaga que é biomédica, mestre e doutora em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo onde estudou a relação entre estresse e memória em modelos animais. Tem interesse e acredita que divulgação científica é algo muito importante e, por isso, colabora com iniciativas que investem nisso, como este blog e o grupo  NuncaViUmCientista.

Fontes:

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Coronavirus (COVID-19). Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Disponível em: https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/index.html

Ministério da Saúde. Disponível em: https://coronavirus.saude.gov.br/

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https://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/2020/03/25/jovem-de-19-anos-morre-com-suspeita-de-covid-19-em-teresina.ghtml

https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/03/20/a-cada-10-hospitalizacoes-por-covid-19-nos-eua-4-sao-de-jovens-e-adultos-aponta-levantamento.ghtml