Cidades quentes, florestas ameaçadas: o desafio das mudanças climáticas

A ministra Sônia Guajajara destaca que os povos indígenas, embora representando apenas 5% da população mundial, protegem 82% da biodiversidade do planeta. Ela ressalta que os territórios indígenas são áreas de grande importância ecológica, protegendo uma vasta quantidade desta biodiversidade e que o conhecimento tradicional destes povos é fundamental para encontrar e implementar soluções para a crise climática, como o aquecimento global. Como podemos contribuir com este debate desde os territórios urbanos? Será este um debate para ser pensado em escala individual ou devemos repensar todo o modelo de sociedade em que vivemos? Será que basta comprar um carro elétrico ou separar o lixo? Embora essas atitudes contribuam, somos instados a pensar que outro modelo de sociedade implicaria mudanças mais profundas. Mas, por onde começar? É preciso insistir em um replanejamento urbano radical, no qual as dimensões centrais da vida, como alimentação e transporte, por exemplo, receberiam atenção exclusivamente voltadas para o problema da crise climática. Será que estamos prontos para compreender a necessidade e o peso dessas transformações?

No Brasil, é muito comum a gente sentir calor dentro de casa no verão e frio no inverno. Quem pode, liga o ar-condicionado ou aquecedor. Quem não pode, sofre com o desconforto: dorme mal, sente mal-estar, rende menos no trabalho ou nos estudos. O resultado? Nos últimos dois verões, batemos cinco recordes seguidos de consumo de energia, sempre no meio da tarde, quando todo mundo tenta se refrescar. Isso acontece porque muitas casas são construídas pensando só no menor custo, sem levar em conta o conforto ou o gasto de energia a longo prazo. E mesmo quando tem arquiteto ou engenheiro no projeto, muitas vezes a estética fala mais alto — e aí vemos aquelas casas modernas cheias de vidro, que são verdadeiros fornos no calor. Além disso, nossas normas de construção ainda são muito fracas quando o assunto é conforto térmico, e não há nenhuma lei sobre isso. Como resultado, temos um ciclo: construímos mal, usamos mais ar-condicionado e aquecedores, gastamos mais energia, emitimos mais CO₂, pioramos as mudanças climáticas... e enfrentamos mais ondas de calor e de frio. Só que parar de construir não é opção — o Brasil tem um déficit habitacional enorme. O que precisamos é construir melhor. Já existem materiais mais sustentáveis e que isolam melhor o calor e o frio. A solução passa por juntar esforços: sociedade, governo e profissionais da área trabalhando juntos para fazer casas mais confortáveis, eficientes e sustentáveis.