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Olá de novo! Nossos textos serão postados toda quarta, e por vezes terão textos em outros dias.
No domingo que se aproxima, 08 de Março, se comemora o Dia das Mulheres por todo o mundo.
Leia agora um pouco sobre a mulher que, ao morrer, salvou e salva muitas vidas.
Células para sempre: uma história sobre ética, ou a falta dela.
Henrietta Lacks nasceu em 1920, era uma mulher afro-americana, descendente de escravos, que cresceu em plantações de fumo e vivia no sul dos Estados Unidos com a família. Henrietta teve cinco filhos. Ela completaria 100 anos em Agosto deste ano e na verdade, parte dela ainda está por aí fazendo aniversário: 69 anos de células que mataram Henrietta ainda jovem, mas não morreram.
Henrietta Lacks. Fonte: https://www.lincolnschool.org/alumnae/alumnae-blog/details/~board/the-green-light-blog/post/11-reasons-why-you-should-care-about-henrietta-lacks
Em 1951, Lacks foi diagnosticada no Hospital Johns Hopkins (o único hospital de sua região que atendia negros), com câncer cervical (parte do útero) agressivo de forma pouco conhecida. Foi tratada com radioterapia e uma amostra do tecido do seu tumor foi coletada, sem o consentimento dela ou da família. Henrietta era muito querida entre familiares e amigos, tanto que fizeram fila ao redor do Hopkins para doar sangue quando ela precisou, em seus últimos meses de vida. Entretanto, ela não respondeu ao tratamento e faleceu no Johns Hopkins ainda em 51 e mais amostras de tecido foram coletadas indevidamente durante a autópsia.
George Gey, foi o médico que recebeu e primeiro estudou as células de Henrietta, que ele etiquetou como HeLa. George era oncologista e acreditava que o caminho para descobrir a cura do câncer, precisava de células humanas que sobrevivessem por vários dias, se multiplicando e podendo ser divididas em novas porções de novo e de novo, o que permitiu múltiplos testes na mesma linhagem de células. E assim eram as células de HeLa, crescendo e se multiplicando a cada 24 horas, sem definhar, eram enfim uma linha de células humanas imortais. A imortalização de células é hoje, uma tecnologia possível com diferentes linhagens celulares, mas foram as HeLa que abriram o caminho, e participaram de descobertas chave. Foram as primeiras células a serem produzidas em massa, na ocasião do teste da vacina da poliomielite ainda em 1954, e foram clonadas com sucesso no ano seguinte. As células de Henrietta têm possibilitado pesquisa em diferentes campos, incluindo: oncologia, HIV (vírus da imunodeficiência humana), príons, radiação, mapeamento genético entre outros. Até prêmio Nobel HeLa teve: a descoberta do papiloma vírus humano (HPV) e sua relação com o câncer cervical, como no caso de Henrietta. Este estudo possibilitou a elaboração de vacinas para o HPV, de forma que Henrietta está salvando meninas em todo o globo.
Células HeLa. Fonte: https://www.immunology.org/hela-cells-1951
A situação das células HeLa, só se tornou conhecida de seus familiares em 1975. E desde então, rendeu somente desentendimento e sofrimento a família Lacks. Rebecca Skloot se dedicou por aproximadamente uma década para contar a história de Henrietta e suas células, para conscientizar sobre o papel da ética nas práticas médico-científicas. O livro se transformou em filme, onde Oprah Winfrey vive a filha de Henrietta. A história poderia parecer “ultrapassada”, mas uma revisão sistemática de pesquisas que não necessitam de consentimento informado nos Estados Unidos mostrou que os negros eram 29% dos participantes, apesar de serem apenas 13% da população estadunidense. A obra visa também o reconhecimento dos direitos da família de Lacks sobre as células de sua mãe, bem como a distribuição, usos e lucros.
E você já conhecia essa história?
Para saber mais:
Skloot R. The immortal life of Henrietta Lacks. Portland, OR: Broadway Books, 2017.
Zielinski, Sarah (2010-01-02). "Cracking the Code of the Human Genome. Henrietta Lacks' 'Immortal' Cells". Smithsonian. Retrieved 2016-12-31.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3807222/
Feldman WB, Hey SP, Kesselheim AS. A systematic review of the Food and Drug Administration’s ‘exception from informed consent’ pathway. Health Aff (Millwood) 2018; 37:1605-14.
https://www.scientificamerican.com/article/5-ways-henrietta-lacks-changed-medical-science/
https://medicine.yale.edu/news/yale-medicine-magazine/the-virus-behind-the-cancer/
https://www.archivesofpathology.org/doi/10.1043/1543-2165-133.9.1463?url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub%20%200pubmed
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28228572-opposed-to-the-being-of-henrietta-bioslavery-pop-culture-and-the-third-life-of-hela-cells/?from_term=henrietta+lacks&from_pos=9
https://super.abril.com.br/ciencia/helas-as-celulas-que-dominaram-o-mundo/
https://osp.od.nih.gov/scientific-sharing/hela-cells-timeline/