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Imagem da capa: Cometa Neowise sobre o Novo México. Fonte: NASA JPL
Esta semana, o cometa C2020F3 (Neowise), estará visível no céu. Na verdade, esse visitante cósmico já está visível a olho nu para os habitantes do hemisfério Norte, mas agora teremos a oportunidade de observá-lo durante algumas noites também. Será um belo espetáculo para quem curte olhar para as estrelas à noite e sonhar com outros mundos
Cometas são bolas de gás e poeira espacial congeladas, que orbitam o sol em viagens que podem durar de algumas dezenas de anos até vários milênios para serem concluídas. Todos os corpos do sistema solar giram ao redor de nossa estrela central (o sol é uma estrela, lembre-se). Entre os cometas de período orbital curto, temos o Cometa Halley, por exemplo, que se aproxima do sol a cada 75-76 anos. Com certeza esse é o cometa mais conhecido do público. O cometa recebe o nome do astrônomo inglês Edmond Halley, que foi quem se debruçou sobre registros de cometas de toda a história da humanidade, e percebeu que a cada 75-76 anos havia o registro da passagem de um cometa, sempre com características bem parecidas. Os registros mais antigos datavam do ano 240 AC, na China e na Babilônia. A partir daí, sempre surgiam novos relatos periódicos da aparição do cometa. Foi com base nesses registros que, no ano de 1705, Halley previu que o cometa reapareceria em 1759. O astrônomo morreu em 1742, não tendo a oportunidade de observar sua descoberta ser confirmada, mas seu nome ficou eternizado, já que passou a ser sinônimo desse cometa que sempre nos visita. A hipótese de Edmond de que os cometas tendem a retornar às proximidades do Sol periodicamente, também acabou sendo confirmada posteriormente .
Na antiguidade, os cometas eram vistos como sinais dos deuses aos seres humanos e cada cultura interpretava esses sinais de forma diferente. Normalmente, eles eram associados a maus agouros e avisos de tragédias iminentes. Apenas recentemente os astrônomos foram capazes de desvendar os mistérios que envolvem esses belos corpos celestes, que às vezes vêm nos visitar.
Cometa Neowise sobre Stonehenge – Crédito: NASA-JPL
Como "ocorrem" os cometas?
Essas bolas de gelo e poeira são restos da formação do nosso sistema solar e podem orbitar o nosso Astro Rei, o sol, a diferentes distâncias. Essa distância é o que define a periodicidade com que o cometa se aproxima do Sol e se torna visível aos olhos dos habitantes da Terra. Enquanto eles permanecem muito distantes, no vácuo frio do sistema solar, não passam de corpos gelados, escuros e sem graça. Mas à medida que vão se aproximando, as emissões e o calor do sol aquecem o cometa a temperaturas absurdamente altas, formando uma bolha de plasma (gás ionizado, em estado intermediário entre gasoso e sólido), ao redor no núcleo rochoso do cometa. Essa bolha recebe então o nome de Coma. O vento solar provoca um arrasto na coma do cometa, gerando a cauda. A cauda é às vezes tênue às vezes muito longa e brilhante, dependendo de fatores como, distância do Sol, velocidade e composição do cometa. A parte contra intuitiva nessa história, é que a cauda do cometa aponta sempre na direção oposta ao sol. Assim, depois que o cometa contorna o sol e começa a se afastar novamente, sua cauda estará à frente do núcleo e não atrás.
Órbita do cometa Neowise – Crédito: Wikipedia
O C2020F3
Simplesmente Neowise para os mais íntimos, é um cometa de órbita longa, com aproximadamente 5 km de diâmetro que para nós do hemisfério sul, deverá ser visível a olho nu apenas em locais bem escuros e afastados dos grandes centros urbanos. Se você estiver numa localidade em que a luz artificial polui o céu noturno, vai precisar do auxílio de binóculos, ou de um telescópio, mesmo que do tipo “amador”. Ele deve aparecer no céu logo após o cair da noite, bem próximo ao horizonte Noroeste – ou seja, bem perto de onde o sol se pôs, e deverá permanecer visível por mais de uma hora, até se esconder no horizonte também.
Abaixo, uma tabela elaborada pelo Professor de Astronomia Éder Canalle, indicando regiões do Brasil, com datas e horários a partir dos quais o cometa pode ser observado:
“18/07 Boa Vista/RR, Macapá/AP, Belém/PA, São Luis/MA – magnitude* +3,0
19/07 Manaus/AM, Imperatriz/MA, Teresina/PI, Fortaleza/CE, Natal/RN – magnitude +3,1
20/07 Rio Branco/AC, Porto Velho/RO, Palmas/TO, J. Pessoa/PB, Recife/PE, Maceió/AL, Aracajú/SE – magnitude +3,3
21/07 Cuiabá/MT, Goiânia/GO, Brasília/DF, Salvador/BA – magnitude +3,5
22/07 Campo Grande/MS, Belo Horizonte/MG, Vitória/ES – magnitude +3,7
23/07 Londrina/PR, São Paulo/SP, Rio de Janeiro/RJ – magnitude +3,9
24/07 Curitiba/PR, Chapecó/SC, Florianópolis/SC, Porto Alegre/RS – magnitude +4,0
Dados: Rede de Astronomia Observacional (REA - Brasil)
O pessoal da REA-Brasil tem feito um trabalho informativo com dados técnicos do cometa, o link para acesso está ao final.
Atualmente o Neowise está na constelação Ursa Maior e há possibilidade de vê-lo e fotografá-lo logo após o pôr do Sol a partir desta semana. Mas saiba que para fazer essa tentativa você tem que ter uma visão completamente livre na direção do Noroeste, pois o cometa estará baixo no horizonte.
Mas antes de observar temos que saber uma coisa. A magnitude ( o tamanho aparente no astro no céu. Quanto mais alto esse valor, menor a visibilidade do objeto) de cometas é diferente da magnitude de estrelas. Estrelas são pontuais, o brilho aparente delas está concentrado em um único ponto. Os cometas são corpos extensos, o brilho do cometa estará disperso em sua área. Tenha isso em mente quando for criar expectativas em relação ao brilho de um cometa baseado em sua magnitude.
Por fim, o céu não fica escuro no horário do pôr do Sol, é necessário que o Sol esteja alguns graus abaixo do horizonte para que se comece a ver o cometa.
Simulação da posição para observação do cometa para a cidade de São Paulo, do dia 25/07/2020 às 18:23, conforme informação do aplicativo Stellarium
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Este artigo foi escrito por Roger Bonsaver, membro da Rede Brasileira de Jornalistas e Divulgadores de Ciências (RedeComCiência), editor da página Space Today e voluntário no Observatório Astronômico de Diadema.
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