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É possível os agrotóxicos estarem relacionados com o aumento do excesso de peso na população?

A prevalência de obesidade em humanos vem aumentando gradualmente, especialmente nas últimas décadas. A obesidade é uma condição que está presente em todos os níveis sociais e as comorbidades (quando há duas ou mais doenças relacionadas) associadas impõem um grande desafio à saúde pública em nível global. De acordo com  a última Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL) realizada pelo Ministério da Saúde em 2018, 55,7% da população adulta brasileira apresenta excesso de peso. Dessa maneira, surge a pergunta: será que o excesso de peso estaria relacionado apenas à diminuição do equilíbrio entre a ingestão alimentar e o gasto de energia?

Sem dúvida, ingerir mais calorias do que se gasta leva a um desbalanceamento energético, portanto, o sedentarismo contribui para essa equação. Porém, precisamos considerar outros fatores que podem contribuir para o estado de obesidade como tabagismo, estresse, consumo excessivo de álcool e fatores genéticos. Entre as causas ambientais, temos os chamados Endocrine Disrupting Chemicals (EDCs), na tradução livre: Químicos Disruptores Endócrinos. Os desreguladores endócrinos, como são mais conhecidos em português, alteram a função do sistema endócrino causando efeitos adversos, mesmo que o organismo esteja saudável.  Você deve estar se perguntando: qual seria a relação entre  desreguladores endócrinos, agrotóxicos e obesidade? 

Fonte: TORRES, 2019.

Os agrotóxicos são compostos por substâncias desreguladoras endócrinas. Sendo assim, essas substâncias podem interferir na função hormonal, e por consequência, em processos fundamentais para o controle do metabolismo ou na ação periférica de hormônios endógenos (hormônios naturais do nosso corpo) através da sua ligação a receptores hormonais. Isso porque em nosso organismo existem receptores que são criticamente importantes para a diferenciação e homeostase de energia dos adipócitos (células do tecido adiposo que armazenam gordura). Por isso, alterações causadas por EDCs podem alterar os adipócitos, a ação da insulina adipocítica e a secreção de adipocinas (proteínas sintetizadas e secretadas pelo tecido adiposo), e podem contribuir para o aumento da gordura corporal e para causar o quadro de obesidade.

Nesse sentido, muitas pesquisas estão sendo conduzidas na tentativa de elucidar se existe ou não a ligação entre agrotóxicos e sistema hormonal. Exemplo disto é o estudo que está sendo realizado na Universidade Federal da Fronteira Sul, no Paraná, que objetiva estudar a relação entre agrotóxicos, obesidade e comorbidades associadas, como o diabetes, por exemplo. Os pesquisadores convidaram  uma população de agricultores do sul do país a participar deste estudo, pois são os agricultores as pessoas que têm mais contato com essas substâncias e, assim, podem apresentar maior risco de desenvolver distúrbios endócrinos. Também, destaca-se o fato de que eles estão expostos durante anos a esses agentes químicos, muitas vezes de modo inadequado, não utilizando de maneira correta os equipamentos obrigatórios de proteção individuais necessários. Por meio desta pesquisa, e de outras que estão sendo realizadas, será possível observar as consequências desta exposição aos agrotóxicos e o mecanismo de ação dessas substâncias, o que pode vir a contribuir na fabricação e regulamentação de novos agroquímicos sem efeitos colaterais para os trabalhadores.   

E você, já sabia desta possível relação entre os agrotóxicos e a obesidade?

Este texto foi escrito pela colaboração de Calinca Skonieski e Gabriela Suthovski, alunas de graduação e pós-graduação na Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS e a Professora Dalila Moter Benvegnú também da UFFS.

Para saber mais:

http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2019/julho/25/vigitel-brasil-2018.pdf

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0890623810002650

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30195387

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26401242

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22885474