Atualmente, não há nenhum tratamento específico indicado para tratar a COVID-19.
Ou seja, até a publicação deste texto, não havia nenhum tratamento com eficácia comprovada de forma a reduzir a mortalidade e chance de piora no quadro dos pacientes. Mas, há diversos medicamentos já aprovados para o tratamento de outras doenças sendo colocados em pauta como possíveis tratamentos. Este uso é o chamado “off label”, quando um medicamento é aprovado para uma coisa, e você busca usar para outra. Esta abordagem tem como principais benefícios já se conhecer a segurança do medicamento e serem drogas que já são produzidas em diferentes países. Os efeitos colaterais comuns e níveis de toxicidade das substâncias também já são conhecidos. Ainda assim, é necessário ter metodologia científica rigorosa ao testar os possíveis tratamentos para garantir sua segurança e eficácia. Isso é feito através de desenhos experimentais que incluem grupo controle (que não recebe a droga em teste), pacientes devidamente testados para o novo coronavírus, uma cuidadosa e fidedigna análise dos dados e uma avaliação por outros cientistas não envolvidos com o estudo em questão.
Imagem de comprimidos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) está dando um grande passo na busca por um tratamento seguro e eficaz contra a COVID-19, o projeto “Solidariedade”: um conjunto de testes clínicos acontecendo em diversos hospitais pelo mundo. E quais são os tratamentos sendo testados?
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Remdesevir; remédio antiviral produzido para o Ebola, mas que não se mostrou eficaz. Porém, mostrou efeito contra os outros dois coronavírus que geraram epidemias: o SARS-Cov1 e o MERS, o que causa expectativa de resultados positivos também para o SARS-Cov2. Não é produzido ou comercializado no Brasil. Uma pesquisa demonstrou que o tratamento com remdesevir pode diminuir em 4 dias a estadia na UTI. A média de dias que uma pessoa com COVID-19 em estado grave passa internada em UTI é de 15 dias, e com o remdesevir esse número foi reduzido para 11 dias.
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Iopinavir e Ritonavir; uma combinação de antirretrovirais usados para tratar HIV (vírus da imunodeficiência humana), sendo o Iopinavir também possivelmente eficaz no tratamento do HPV (vírus do papiloma humano). Um estudo realizado na China com 199 pacientes com quadro grave de COVID-19 mostrou que o tratamento com essa combinação de tratamentos reduziu em 1 dia o tempo para melhora do quadro. Mas, apesar de este estudo ter denotado 5,2% a menos de mortalidade no grupo que recebeu Iopinavir e Ritonavir, os autores atribuem esse achado a um viés porque exames laboratoriais dos pacientes mostraram que a droga não foi capaz de reduzir a viremia (ou seja a “quantia de vírus” no corpo) dos pacientes.
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Iopinavir + Ritonavir + Interferon B; o coquetel descrito anteriormente recebe de acompanhante o interferon Beta, uma substância recombinante que é usada para o tratamento da esclerose múltipla. Essa combinação dos antivirais com o Interferon parece ser mais promissora no tratamento da COVID-19 do que somente os antirretrovirais. Tal combinação mostrou-se efetiva para modelos animais do MERS, o coronavírus do Oriente Médio. Fora do projeto Solidariedade, há pesquisas que incluem também o Ribavirin no coquetel de medicamentos, outro antiviral, que diminuiu o período de internação e a viremia dos pacientes.
Após um estudo mostrar a ineficácia e o perigo de se usar a droga anti-malária, Hidroxicloroquina e/ou cloroquina (com ou sem o antibiótico azitromicina), seu uso foi interrompido na pesquisa Solidariedade em 25 de Maio, mas no dia 03 de Junho a OMS anunciou que irá retomar os testes com a hidroxicloroquina.
Fora do Solidariedade, há outras drogas em diferentes fases de teste, como a
Nitazoxanida (“Anita”)remédio antiparasitário (popularmente conhecido como“vermífugo”), clamado pelo Ministro da Ciência, Marcos Pontes como “arma secreta” do Brasil contra o coronavírus. Em 2019, a nitazoxanida mostrou resultados positivos em relação ao Ebola em pesquisa com células. A nitazoxanida foi capaz de melhorar a resposta das células e inibir a replicação do vírus. Estudos com células infectadas pelo novo SARS-CoV2 também demonstraram que a nitazoxanida pode ser uma candidata para o tratamento da COVID-19. Entretanto, em um modelo animal com vírus Influenza (causador da "gripe comum") a nitazoxanida não teve efeito. Assim, antes de ser considerada uma arma secreta, é necessário mais pesquisas.
Imagem de garrafas comumente usadas para cultura de células.
Em meados de Maio, a empresa americana de biotecnologia Sorreto anunciou ter produzido um medicamento que teve eficácia de 100% em prevenir que células humanas fossem infectadas pelo novo coronavírus. Na verdade, se trata de um anticorpo neutralizante (capaz de destruir o vírus), que foi nomeado "STI-1499", e seu efeito seria de aproximadamente dois meses. Este é um passo importante, mas há ainda algumas etapas pela frente, como os testes em animais e pesquisa clínica em hospitais.
Além destes tratamentos, há o projeto “Solidariedade II” que está pesquisando a eficácia do tratamento com anticorpos presentes no sangue de quem se contaminou e se recuperou, a chamada “Terapia de soro convalescente”. Espera-se, que os anticorpos produzidos por quem combateu e venceu o novo coronavírus possam ser úteis para que ajudar quem está infectado. Mas ei, se você não teve coronavírus saiba que seu sangue ainda pode ajudar muito! Uma doação de sangue pode ser utilizada para ajudar a salvar a vida de até 5 pessoas!
E por fim, para os efeitos cardiovasculares preocupantes que a COVID-19 pode trazer, como coágulos; a heparina sódica (um anticoagulante) também está sendo estudada em pesquisas clínicas.
Ah, vale lembrar que nenhum chá, ou combinação de ervas, deve ser considerado como remédio ou preventivo ao coronavírus, independentemente do quanto a mensagem recebida pelo WhatsApp pareça real. Veja este post e vá em algum dos diversos sites “checadores” de fatos para saber a veracidade das informações que você recebe.
Esperamos que você esteja em casa (se possível) e utilizando máscaras quando tiverem que sair de casa! Lembre-se, que usar máscara pode até ser desconfortável mas só é eficaz se utilizada da maneira correta: cobrindo o nariz e a boca o tempo todo. No próximo post vamos falar sobre as vacinas em desenvolvimento no Brasil e no mundo, e para quando devemos esperar uma vacina segura, eficaz e disponível.
Outros sites para ler em português sobre:
https://www.bbc.com/portuguese/geral-52886843
https://setorsaude.com.br/biofarmaceutica-anuncia-ter-descoberto-anticorpo-eficaz-contra-covid-19/
Sobre o estudo da Prevent Senior https://www.youtube.com/watch?v=BWhZsv2WcLI
Fontes para este post:
Estes artigos de acesso livre (porém todos em inglês) contém um agrupamento de informações sobre as drogas citadas neste post e muitas outras, que estão sendo avaliadas como possíveis tratamentos para a COVID-19:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7237624/#CR70
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7235439/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7195979/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7207108/
Sobre os outros tratamentos de forma específica:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7211497/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6831822/
https://www.biospace.com/employer/397037/sorrento-therapeutics-inc-/
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32492105/?from_term=plasma+COVID19&from_sort=date&from_pos=1
https://www.thelancet.com/pdfs/journals/lancet/PIIS0140-6736(20)31180-6.pdf
https://www.thelancet.com/journals/lanpuhttps://academic.oup.com/jid/article/212/12/1904/2911949b/article/PIIS0140-6736(20)31290-3/fulltext?utm_campaign=lancet&utm_source=twitter&utm_medium=social#back-bib1
https://jamanetwork.com/journals/jama/article-abstract/2766943
https://trialsjournal.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13063-019-3846-x
https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2001282?query=recirc_mostViewed_railB_article