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Você já sentiu uma vontade quase incontrolável de morder um bebê bem fofo? Ou de apertar um filhotinho de gato ou cachorro? Você se identifica com personagens como a clássica Felícia, que apertava e apertava o gatinho, sem parar, para demonstrar o seu amor? Ou, a personagem mais contemporânea, Agnes, do filme ‘Meu malvado favorito’ que adora amassar bichinhos de pelúcia? Pois pode ficar tranquilo, não há nada de “anormal” em querer amassar fofuras. Mais do que normal, essa reação pode até te ajudar a se tornar uma babá melhor. Quer saber como?
Fonte: imagens da web; Felícia - Looney Tunes, Agnes - Meu Malvado Favorito.
É porque coisas fofas demais parecem ativar algumas cascatas de sinalização dentro do cérebro de forma tão intensa que, para reequilibrar o excesso de fofura, os sinais acabam ficando um pouco confusos e aparece a vontade incontrolável de amassar, apertar e morder esses seres indefesos e maravilhosamente fofos. Acontece que nossa reação à fofura envolve um ímpeto de pegar o alvo de “carinho-agressivo”, apertar e interagir com eles que, muitas vezes, dependem dos humanos adultos para sobreviver.
Algumas características típicas de filhotes das mais diversas naturezas, como a cabeça grande, o rosto redondo e os olhos grandes, parece ter um papel evolutivo importante. Ao despertar nos adultos essa vontade de agarrar e cuidar dos bebês, as chances de sobrevivência dos pequenos serzinhos aumentam. Tem até um nome difícil, usado pelos cientistas, para esse conjunto de características capazes de fazer com que os adultos façam sons como “awnnn” e usem vozinhas estranhas “fofas” - é “Kindchenschema” (kind significa fofo ou gentil em inglês).
Figura com imagens manipuladas para menos kindchenschema, sem manipulação e manipuladas para maior kindchenschema, e ao lado a pontuação de o “quão fofo”(B) e motivação para cuidar dos bebês (C) ao ver cada imagem imagens. Gráficos do artigo de Melanie L. Glocker e colaboradores, 2009.
Os cientistas que pesquisam sobre a neurobiologia das emoções ainda atentam para o fato de que estas são geradas a partir da atividade sincronizada de diversas regiões do cérebro que são importantes também para outros comportamentos. A amígdala por exemplo, não aquele sininho no fim da garganta (aquele é a tonsila palatina) mas sim a região do cérebro, está envolvida tanto no processamento de medo quanto de alegria. Estudos sobre o comportamento, com foco tanto nas causas quanto nos mecanismos, são importantes para melhor entendermos a vida, suas interações e as patologias que afetam esses comportamentos. Em um post passado, aqui, já foi abordado sobre o diferente funcionamento do cérebro de "psicopatas".
Fonte: Wikimedia.commons. Imagem de desenho representativo do cérebro em corte sagital mostrando algumas estruturas como o córtex cerebral (cerebral cortex), corpo caloso (corpus callsoum), núcleos da base (basal ganglia), tálamo (thalamus), amígdala (amygdala), cerebelo (cerebellum) e tronco encefálico (brainstem).
E você, também tem algum comportamento fofamente bizarro direcionado a bebês, filhotes e pets ULTRA fofos? Conta pra gente aqui embaixo.
Esse texto foi escrito pela Letícia, que é biomédica e mestranda no departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo, onde estuda as relações entre o comportamento e o cérebro. Letícia tem muitos gatos e gosta de apertar eles e tirar muitas fotos dos fofuchos!! Letícia também coordena o blog aqui, e a cidade de São Paulo no Pint!
Fontes:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3260535/
https://darwinianas.com/2019/12/03/o-bebe-yoda-e-a-ciencia-da-fofura/#more-4255
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27891103-aww-the-emotion-of-perceiving-cuteness/