ChAdOx1 nCoV-19, apelidada de AZD 1222. Esse nome estranho é como se chama a vacina britânica contra o coronavírus, resultado da parceria entre a Universidade de Oxford com a empresa biofarmacêutica Astrazeneca, que está sendo testada no Brasil.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária foi procurada pela Universidade de Oxford para acordar a possibilidade de testar a vacina aqui. Antes de chegar no Brasil, a vacina foi testada em macacos Rhesus nos laboratórios da Universidade de Oxford e se mostrou segura e eficaz em prevenir a pneumonia causada pelo coronavírus, a COVID 19. Passou, então, para testes clínicos com pessoas no Reino Unido para assegurar sua segurança quanto ao uso em humanos, e agora continua sendo testada lá, mas também no Brasil e na África do Sul, com previsão de testes nos Estados Unidos e distribuição da vacina na Europa. A AZD 1222 está agora na terceira fase da pesquisa clínica, em que já se conhece a segurança, efeitos colaterais e as dosagens a serem utilizadas. O que falta na lista? Efetividade: saber se de fato a vacina é capaz de prevenir que as pessoas adoeçam caso infectadas pelo novo coronavírus.
Fonte: Pixabay.com
O Brasil conta com mais de 1 milhão de casos confirmados e mais de 50 mil mortos, números subestimados devido à baixa testagem. Ainda assim, os números têm uma mensagem clara: a transmissão no Brasil está ocorrendo em larga escala, e rápido. Desta forma, o país se torna um cenário adequado para testar, já que a chance de se contaminar é alta, principalmente para trabalhadores da área da saúde, que mantêm contato com pacientes infectados e seguem se expondo nas ruas. A vacina será testada com o auxílio da Universidade Federal de São Paulo e do Instituto D’Or. Os testes iniciaram em 22 de junho, e os voluntários da pesquisa serão acompanhados por um ano.
Qual o método utilizado?
A vacina não contém o SARS-CoV2. Bem, pelo menos não inteiro. A vacina contém um outro vírus, um tipo de adenovírus que causa gripe em chimpanzés, recombinante que expressa a proteína S que expressa "spike" (espículo), assim a vacina é composta por um vírus inofensivo a humanos e contém somente um fragmento do coronavírus, que não é capaz de infectar quem se vacinar. Já se sabe que o espículo presente na membrana do coronavírus é o que permite que sua entrada nas células de órgãos do corpo humano, como pulmão, garganta, fígado e rins. Ao ter contato com a proteína S, o corpo irá produzir anticorpos imunizantes específicos contra o spike, e assim impedir que ele adentre as células. Produzir anticorpos é "como fazer uma receita", você precisa ser ensinado como fazer antes de poder fazer sozinho, e cada vez que você repete, fica mais rápido e mais eficaz. Nossas células de defesa, os linfócitos B (os que produzem anticorpos) funcionam de forma semelhante. Com a vacina, eles irão aprender a fazer anticorpos contra a espícula do novo coronavírus, e caso o vírus entre no organismo, os linfócitos já sabem como combater aquela proteína estranha e espinhosa.
Tradicionalmente, novos medicamentos ou vacinas demoram de 10 a 15 anos do momento em que se isola a substância até a aprovação para o comércio e distribuição para a população geral. Com a pandemia, essa corrida foi acelerada, quando os resultados em animais são positivos rapidamente segue-se para o início dos pesquisa clínica. Diferentes laboratórios estão testando diferentes vacinas ao mesmo tempo, e os órgãos de regulamentação agilizaram as revisões sobre os dados fornecidos enquanto as indústrias não poupam esforços em garantir a cadeia de produção. Ainda assim, a expectativa é de ter uma vacina eficaz disponível no fim de 2020 ou mais adiante ainda.
Outras opções
Existem outras vacinas que já estão sendo testadas em humanos, e duas delas já reportaram resultados das primeiras fases. A CanSino é bastante similar à AZD 1222 e também utiliza um adenovírus recombinante com a proteína S. Entretanto, o adenovírus usado pela chinesa CanSino é causador da gripe comum em humanos, e isso pode interferir nos resultados da vacina. Como muitas pessoas já foram contaminadas com este adenovírus tipo 5, elas já possuem anticorpos contra o adenovírus tipo 5. Assim, as doses baixa e média da vacina da CanSino não foram capazes de gerar boas respostas imunológicas contra a proteína do espículo, porque o corpo das pessoas reagia ao adenovírus e o destruía antes de “aprender”. A dose alta da vacina não sofre deste problema técnico, mas teve alta prevalência de efeitos colaterais, tendo sido relatados febre alta e dores. Para a próxima fase de testes clínicos, a CanSino utilizará somente a dose média, que foi capaz de causar resposta imunizadora em uma parcela dos voluntários e teve poucos efeitos colaterais.
A outra grande aposta na corrida por uma vacina contra o coronavírus é a vacina proposta pela empresa de biotecnologia Moderna, que está sendo desenvolvida em parceria com o Instituto Nacional de Saúde americano (NIH). A vacina utiliza uma tecnologia completamente inovadora, diferente de qualquer outra vacina atualmente aprovada para uso em humanos. Em vez de conter a proteína S como a vacina da CanSino e da AstraZeneca, a Moderna utiliza somente a parte do material genético (RNA mensageiro, mRNA) do vírus que expressa a proteína S. A Moderna compartilhou bons resultados, entretanto, de poucos pacientes.
O mês de julho começou já com a empresa farmacêutica Pfizer compartilhando através do repertório de preprints (artigos antes de serem revisados por pares e publicados oficialmente, mas já disponíveis para conferência pública) MedRxiv os resultados de uma vacina em parceria com a BioNTech. A abordagem é semelhante a utilizada pela Moderna, os resultados são da fase 1 de testes clínicos com grupos de 9 a 12 participantes. A dose alta da vacina causou efeitos colaterais como febre alta e distúrbios de sono em muitos pacientes, e foi descontinuada. As doses baixa e média da vacina, após uma segunda aplicação tiveram bons resultados em produzir anticorpos.
Fonte: Pixnio.com
Estão sendo testadas mais de 100 vacinas contra a COVID 19 atualmente.
Curiosidade: ChAdOx1 significa Chimpanzee Adenovirus Oxford1.
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Para ler mais:
https://www.biorxiv.org/content/10.1101/2020.05.13.093195v1
https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.06.30.20142570v1
https://www.biorxiv.org/content/10.1101/2020.06.11.145920v1
https://allianceforscience.cornell.edu/blog/2020/06/what-are-the-top-5-most-promising-covid-19-vaccine-candidates/ Nesse link você encontra resumos detalhados sobre as cinco vacinas que estão mais avançadas na pesquisa clínica.
Em português
https://www.unifesp.br/campus/sao/noticias/1397-vacinaoxford
Para entender mais sobre o porquê da utilização de animais em pesquisa, assista a este vídeo.