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       Depois de viajar por quatro anos e percorrer mais de 320 milhões de quilômetros, finalmente a sonda OSIRIS-Rex da NASA, toca a superfície do asteroide 101955 Bennu, coleta amostras e inicia sua jornada de retorno ao lar. 

      Os asteroides são rochas espaciais que podem ser de tipos e tamanhos bem variados e que costumam se concentrar entre as órbitas de Marte e Júpiter. Mas este desperta a atenção dos pesquisadores por alguns motivos: primeiro porque Bennu vem deslocando sua órbita em direção ao Sol e pode representar uma ameaça à Terra, já que tem um diâmetro de quase 500 metros e deve passar por perto do nosso planeta no ano de 2135. Ele é considerado um NEA (Near Earth Asteroid, ou Asteroide Próximo à Terra). A chance de colisão é de apenas 0,7% e o prazo parece ser longo, mas devemos considerar que a humanidade ainda não possui um plano para se proteger de um impacto devastador, então precisamos começar elaborar um sistema de defesa com urgência. Alguém se lembra o que aconteceu com os dinossauros?

       Outra razão para buscarmos amostras além de nos precavermos, é o próprio estudo científico do asteroide. Os cientistas acreditam que Bennu seja uma relíquia da época da formação do sistema solar. Trazer amostras de seus componentes para serem estudados em laboratórios, podem ajudar a solucionar questões antigas da história do nosso sistema solar e do nosso planeta também. Meteoritos, que são fragmentos de meteoros, caem na Terra todos os dias e milhares deles são coletados e estudados. Esses meteoros são rochas de diversos tamanhos que viajam da região mais externa do sistema solar e, às vezes, podem vir até do espaço exterior, atraídos pela força gravitacional do sol. Então, por que não estudamos apenas os meteoritos que chegam até nós, ao invés de gastar milhões em missões espaciais? Na verdade, para que essas pequenas rochas cheguem ao solo terrestre, elas atravessam nossa atmosfera em altíssimas velocidades, o que faz com que elas tenham sua superfície carbonizada e sejam “contaminadas” com os elementos constituintes da atmosfera e também do solo. Depois de coletadas, fica virtualmente impossível diferenciar quais componentes são originais do meteorito e quais provém da contaminação. Amostras de DNA e moléculas de aminoácidos (partes que constituem as proteínas) já foram descobertas em meteoritos desde os anos 60, mas até hoje existe controvérsia sobre a origem dessas amostras, se são trazidas do espaço ou se são contaminações ocorridas na Terra. 

       Por todas essas razões, em 2016 foi lançada a Missão OSIRIS-REx (um acrônimo em homenagem ao rei Osiris, um Deus-Rei da mitologia egípcia). A sonda, de 6,20 metros de comprimento e pesando 880Kg, foi equipada com um braço robótico, para a coleta de pequenas pedras e grãos de poeira, com diâmetros que variam de 1mm a 2 cm. Uma carga de nitrogênio foi disparada contra o solo do asteroide alguns segundos antes do contato, fazendo com que amostras se desprenderam, para facilitar a coleta pelo braço mecânico. Essas amostras foram então trazidas para dentro da sonda e lacradas de forma a não correrem risco de contaminação ao entrar na atmosfera terrestre. A NASA disponibilizou um vídeo que mostra o momento desta coleta, que você pode assistir aqui, na página da Planetary Society. Foram 82 imagens capturadas durante 8 segundos e combinadas em forma de Time Lapse.

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Imagem: NASA/Divulgação 

       O que pouco se vê na mídia, é que a JAXA, Agência Espacial Japonesa, já possui uma missão semelhante em andamento. Em 03 de dezembro de 2014, foi lançada a missão Hayabusa 2, em direção ao asteroide 162173 Ryugu - que também é um NEA. Utilizando uma estratégia bem semelhante, a sonda alcançou seu objetivo em 22 de fevereiro de 2019, recolhendo amostras da superfície do asteroide e neste momento, já está realizando sua viagem de retorno à Terra. A expectativa é que o pouso ocorra dia 04 de dezembro, ou seja, daqui a pouco.

       A Jaxa mantém uma página muito interessante, pela qual podemos acompanhar todo o andamento da missão com detalhes, incluindo velocidade e distância da sonda até a Terra. Você pode clicar aqui, para acompanhar.

       Ainda não sabemos quanto de amostras foram coletadas nas missões, mas a Haybusa, com capacidade para pouco mais de 100 gramas, espera-se que tenha coletado um mínimo de 60 gramas. Já a OSIRIS-REx tem capacidade de transportar até 2 kg de pedras e poeira do asteroide. A torcida é que tenha coletado no mínimo, 200 gramas.

EXPECTATIVAS

       A coleta de amostras do material desses dois asteroides inaugura uma nova etapa da exploração espacial. Pela primeira vez conseguiremos pousar naves em corpos celestes pequenos e distantes, obter rochas de sua superfície e trazer de volta à Terra. O estudo dessas rochas deve ajudar a esclarecer a dinâmica da formação do nosso planeta e de todo o sistema solar, ajudando assim a compreender a história da evolução do universo. Mais que isso, queremos encontrar as respostas para algumas das perguntas mais antigas da civilização: Como a vida surgiu na Terra? É possível existir vida em outros mundos? Se existir, qual a sua forma? Será que as bases biológicas que constituem a vida são as mesmas em qualquer região do universo?

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Asteroide Dimorphus – Tem missão da NASA  planejada para 2022, a fim de desacelerar sua velocidade 


       Se você ainda acha que não são razões suficientes para justificar o investimento realizado, lembre-se de que apesar de esses asteroides terem possibilidades muito pequenas de se chocar com nosso planeta, existem milhares de outros lá fora, que podem nos acertar a qualquer momento. Quanto mais cedo eles forem detectados, maiores as chances de elaborarmos uma proteção para a nossa espécie. Se um NEA estiver em rota de colisão prevista para daqui a 20 anos, por exemplo, podemos enviar uma espaçonave para acelerar ou diminuir a velocidade do asteroide em apenas 10%, o que seria suficiente para evitar que ele colidisse conosco, e assim evitar uma catástrofe que pode ser de proporções trágicas para a humanidade e para toda a vida animal na Terra. Ficção científica? A NASA já planeja o lançamento da missão DART para 2022, em direção ao asteroide Dimorphos. O Objetivo é colidir com a espaçonave contra a superfície do asteroide e desacelerar sua velocidade em apenas 1 centímetro por segundo. Parece pouco, mas esses asteroides podem ser alcançados enquanto ainda estão a centenas de milhões de quilômetros da Terra. Reduzir sua velocidade em 1 centímetro por segundo, pode ser a diferença entre manter a Terra um belo planeta azul e habitável, ou a devastação total. Não existe evidência de que o Dimorphos esteja em rota de colisão com o nosso planeta, mas a missão pode servir como um laboratório para aprendermos a nos defender de um impacto catastrófico quando for necessário. A escolha é nossa.

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Esse texto foi escrito por Roger Bonsaver, coordenador do Pint of Science Diadema, membro da Rede Brasileira de Jornalistas e Divulgadores de Ciências (RedeComCiência), editor da página Space Today e voluntário no Observatório Astronômico de Diadema.