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Você já reparou como ultimamente tem se falado tanto de ir para Marte? Por que Marte? O que tem de tão importante no planeta vermelho?

Bom, primeiro vamos te contar um pouquinho de como esse planeta pode ser o novo astro a ser visitado pelo homem. 

      Marte é um planeta rochoso como a Terra, isso facilita bem o processo de colonização, já que não é gasoso como os planetas gigantes como Júpiter e Saturno. Ele também está próximo da Terra, próximo em relação aos outros planetas, mas mesmo assim, demora uns 7-8 meses de viagem numa espaçonave para se chegar lá. Mas aí você pode se perguntar: e por que não Vênus? Já que ele também está “pertinho” da Terra. Bom, Vênus é um planeta muito muito quente, o planeta mais quente do nosso sistema solar, com temperatura em torno de 450° C, talvez um pouco mais ameno nas nuvens, mas isso fica para uma outra conversa.

       Voltando pra Marte, as temperaturas são bem baixas, em torno de 60° C negativos, mas no verão marciano podendo chegar a 20° C por algumas horas se você estiver na região do Equador e com os pés no chão. Assim, esse planeta não parece tão inóspito, é até mesmo parecido com algumas regiões da Terra, como Atacama e Antártica.

       A gravidade de Marte é ⅓ da gravidade da Terra, isso facilitaria nossa adaptação ao planeta, ou seja, não tão inferior e assim não ficaríamos “flutuando” como em locais de microgravidade (Lua e a Estação Espacial Internacional), onde a força gravitacional é bem bem inferior. Sendo assim, nossos órgãos, ossos e músculos não sofreriam tanto com a mudança de ambiente. 

       Outra característica importante é que a duração dos dias é muito semelhante com o da Terra, um pouco mais de 24 horas. Bom, até agora parece uma boa ideia ir para Marte, certo? Os maiores obstáculos ainda estão por vir, sendo os principais: a falta de água líquida na superfície e os altos índices de radiação incidindo sobre o planeta, principalmente o UV-C. Essa faixa de radiação, aqui na Terra, é completamente filtrada pela atmosfera, graças à camada de ozônio. Como a atmosfera marciana é muito rarefeita, a luz solar atinge a superfície com toda sua intensidade. 

Imagem de camada de gelo marciano. Fonte: NASA 

       Sabemos que Marte já foi banhado por oceanos e possui água em seu subsolo, possivelmente com alta concentração de sais, água salobra. Entre estes sais, o perclorato, é altamente oxidante e prejudicial a vida. Além disso a atmosfera é composta basicamente de gás carbônico e quase nada de oxigênio, ou seja, também teríamos dificuldade de respirar por lá. 

       A pressão atmosférica é muito baixa, cerca de 1000 vezes menor que a encontrada no nível do mar na Terra. Qual o problema disso? Além de tornar a respiração sem o uso de equipamentos impossível, é muito difícil manter a água líquida na atmosfera, dificultando o metabolismo básico de diferentes tipos de organismos vivos.

       Então, por que raios queremos ir para Marte? Apesar disso tudo, ele parece ser um dos astros menos inóspitos para a vida como conhecemos na Terra. Através de estudos de alguns organismos extremófilos, aqueles que vivem em condições extremas na Terra, podemos prever que seria possível que alguns tipos desses organismos poderiam sobreviver no planeta vermelho. Aliás sabe porque ele chama planeta vermelho? As altas concentrações de ferro na superfície o tornam vermelho, o que também pode significar toxicidade. 

Mars 2020 Perseverance Launch (NHQ202007300013) | A United L… | Flickr

Imagem do lançamento do Perseverance. Fonte: Flickr

      Sendo assim, para podermos colonizar Marte vamos precisar contornar vários desses obstáculos, e para isso precisamos estudar, conhecer e aprender como sobreviver por lá. Como fazer isso? Enviando sondas; orbitadores, rovers e landers para estudar a fundo o planeta. Para se ter uma ideia, Marte é o planeta mais estudado, além da Terra, claro. 

Orbitador é uma sonda que fica orbitando um astro, como um satélite de sensoriamento remoto aqui na Terra. Já o rover é aquele veículo de exploração planetária, como um pequeno jipe. E um lander, também pode se chamar de pousador, é diferente do rover, já que ele fica parado numa região determinada estudando o solo, atividades sísmicas, entre outros. 

Desde o início da exploração espacial, em 1960, já foram enviadas mais de 50 sondas, algumas falharam, muitas já estão inativas. Mas trouxeram dados importantes sobre Marte, e nessas últimas semanas tivemos 3 missões muito importantes para se entender melhor o ambiente marciano antes de enviar o homem para o planeta na próxima década.

As missões que já estão a caminho de Marte, são de 3 países diferentes: Emirados Árabes Unidos (EAU), China e Estados Unidos. Foram lançados em julho e tem previsão de chegada em Marte em fevereiro. Por ordem de lançamento:

Hope, é o nome do orbitador do EAU que vai estudar os ciclos climáticos de Marte em diferentes regiões durante 2 anos, e vai trazer respostas para questões do tipo: por que a atmosfera de Marte está perdendo hidrogênio e oxigênio?

Imagem do Hope. Fonte: Wired

Tiawen - 1, é a missão chinesa que vai levar um orbitador, um rover e um lander para estudar não somente o ambiente marciano mas também para procurar possíveis sinais de vida de organismos que existam ou tenham existido em Marte, como micro-organismos e microfósseis. 

China’s Tianwen-1 Mars rover undergoing thermal vacuum testing.

Imagem do Tianwen-1. Fonte: Spacenews.com

Mars 2020, é a missão americana da NASA que vai levar um rover, o Perseverance, e um helicóptero, o Ingenuity, assim, pela primeira vez voando no céu de Marte, enfrentando a atmosfera rarefeita e desafiando a tecnologia. Já o Perseverance vai trazer informações valiosas também sobre o ambiente e procurar por sinais de vidas ancestrais do planeta. Esse rover também irá coletar solo e rochas que serão enviados para a Terra posteriormente, em uma futura missão de retorno de amostra. 

News | NASA to Broadcast Mars 2020 Perseverance Launch, Prelaunch ...

Imagem do Rover do Mars 2020. Fonte: NASA JPL

       Assim, teremos mais embasamento de como construir casas, plantar alimentos, usufruir da água que existe no subsolo, sobreviver às condições extremas para poder iniciar o processo de colonização de um novo planeta. Portanto, as missões para estudo de Marte são de extrema importância nessa nova era da corrida espacial, levando o homem para explorar o universo e enfrentar seus limites!  

Preparou as malas rumo a Marte já? Compartilhe este texto!

Esse texto foi escrito por Ana Carolina Carvalho, conhecida como "Carola". Carola é biomédica, doutora em Biotecnologia e Microbiologista. Atualmente, estuda a aplicação de leveduras selvagens (encontradas na natureza) em astrobiologia dentro do contexto de exploração espacial na Universidade de São Paulo.

A Carola é também uma das responsáveis pela formulação da cerveja exclusiva do Pint of Science! No Pint Online você pode conferir mais sobre esta história e acompanhar o lançamento da cerveja!

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Para ler mais sobre:

https://canaltech.com.br/espaco/missao-chinesa-tianwen-1-deve-ser-lancada-rumo-a-marte-em-julho-desde-ano-165430/

https://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/eua-china-e-emirados-arabes-aquecem-motores-para-ir-a-marte-11072020

https://super.abril.com.br/ciencia/emirados-arabes-esta-prestes-a-lancar-sua-primeira-missao-a-marte/

Referências:

https://www.nasa.gov/perseverance

https://www.nasa.gov/mission_pages/mars/main/index.html

https://www.planetary.org/explore/space-topics/space-missions/tianwen-1.html

https://www.emiratesmarsmission.ae/

Levchenko, Igor, et al. "Mars colonization: beyond getting there." Global Challenges 3.1 (2019): 180006