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Psicopata é um termo que se acredita ter surgido na criminologia e não na medicina. O que entendemos por psicopatia (uma pessoa sem consideração pelos outros, que despreza a vida humana, manipula, mente, sem arrependimento ou culpa ao causar sofrimento e morte) é um criminoso com transtorno de personalidade antissocial, e por tanto. 

Atualmente, o Manual Diagnóstico da Psiquiatria (DSM-V) reconhece 10 tipos de Transtornos de personalidade, que podem se sobrepor e acontecer concomitante com outros transtornos. Um transtorno de personalidade se caracteriza por variantes extremas e disfuncionais de traços de personalidade, comportamentos inflexíveis, mal adaptativos e rígidos. O indivíduo tem prejuízos tanto nas relações interpessoais em relação ao convívio, empatia quanto em funcionamentos do indivíduo em relação a ele próprio, no direcionamento das suas atitudes e a sua identidade.

Muitas vezes, o psicopata tem mais de um transtorno de personalidade, podendo ou não ter traços psicóticos como por exemplo o transtorno de personalidade paranóide, esquizóide e esquizotípico OU podendo ter transtornos de personalidade de engrandecimento e impulsividade como nos transtornos de personalidade histriônica, narcisista e borderline

Ninguém nasce com transtornos de personalidade, são transtornos do desenvolvimento; se manifestam normalmente na adolescência, é estável e persistente, não tem cura. Mas tem tratamento, e costuma ter remissão depois dos 40 anos. Os transtornos de personalidade surgem por uma interação entre fatores biológicos e ambientais, chamados fatores “biopsicossociais”. Entre as alterações biológicas a gente tem mutações genéticas e/ou congênitas, e psicossociais referentes ao funcionamento cognitivo do indivíduo, o ambiente e interações em que esse indivíduo está inserido. Um ambiente disfuncional, estressante, com violência, está relacionado com maiores chances de desenvolver diversos transtornos psiquiátricos assim como eventos traumáticos. Tanto que a prevalência de transtornos antissociais é maior em contextos socioeconômicos de maior adversidade. Esse, entretanto, não é o caso dos rapazes do massacre na escola de Columbine no fim dos anos 90, por exemplo.

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Fonte: Flickr

Neurobiologia da Psicopatia

Psicopatas têm alterações estruturais e funcionais do cérebro. Eles têm um cérebro diferente do de pessoas não-psicopatas em relação ao volume, conectividade de algumas regiões e como o cérebro funciona para processar as informações do ambiente e responder, através dos comportamentos e decisões. 

São as alterações biológicas crônicas, que tornam o psicopata diferente de um "criminoso comum". Criminosos podem ter laços afetivos significativos, podem se arrepender, e tem taxa de reincidência na criminalidade inferior a de psicopatas. A prevalência da psicopatia na população geral, é entre 0,5 até 3,3%, de forma que menos de 1/3 das pessoas com transtornos de personalidade antissocial cometem crimes, ou seja, “psicopatas de fato”. 

Entre as anomalias reportadas e replicadas em diferentes estudos, temos principalmente a diminuição no córtex pré-frontal, uma região que fica na testa e é responsável pelo pensamento lógico, pelo planejamento de ações e uma atividade disfuncional da amígdala, uma região envolvida no processamento de emoções. Uma revisão recente, analisou 118 estudos de neuroimagem com psicopatas e encontrou anomalias na massa cinzenta nos lobos frontais, temporais, cerebelar, límbico e paralímbico. Enfim, essas anomalias são mais proeminentes no córtex pré-frontal, na amígdala que processa emoções, córtex cingulado e insular, regiões muito relacionadas com a empatia, responsáveis em parte pela seleção de ações, notadamente ações sob situações de conflito e estruturas hipocampais (cuja principal função é relacionada a memória). Por fim, encontraram também algumas anomalias no núcleo accumbens, que processa o prazer. 

Fonte: wikipedia.org/wiki/neuromorality

Quanto a genética, estudos indicam que a interação entre o gene da Monoaminoxidase A (MAO A) com um ambiente negativo, é um fator de vulnerabilidade para o desenvolvimento e gatilho de transtornos psiquiátricos como o de personalidade antissocial e agressividade. Monoaminas são um conjunto de neurotransmissores, mensageiros químicos do cérebro, e monoaminaoxidase é a enzima responsável por degradar esses neurotransmissoresAinda, há evidências que tanto adultos, quanto jovens antissociais tem menos serotonina e oxitocina, importantes neurotransmissores e hormônios que agem no cérebro em situações de empatia, felicidade, e socialização. Empatia é essencial para criar laços afetivos com outras pessoas, nos colocar no lugar do outro, de ser contagiados pela risada e de se comover com o sofrimento. 

Outras características biológicas bastante vistas em crianças e adolescentes com desvios de conduta e personalidade antissocial, são por exemplo baixa frequência cardíaca, baixa condutância na pele. A gente vê bastante essas características em filmes, onde o psicopata está sempre muito tranquilo ao ser acusado dos seus atos horríveis. 

Quer saber mais sobre a relação da psicopatia com massacres em escolas como o de Columbine? O blog do Pint of Science participou de um episódio no podcast Sentença 67, sobre o tema! Sentença 67 é produzido por dois jornalistas apaixonados por investigação criminal, Vanessa Cruz e Victor Cunha, que debatem os detalhes, histórias e mitos a cerca de crimes horrendos da vida real e do cinema! Disponível no Spotify e Deezer!

 

Fontes:

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-V). Arlington, VA: American Psychiatric Association, 2013.

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0301008220301301?via%3Dihub

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22800411/

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3371272/

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18838035/

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4649950/