© Pint of Science, 2024. All rights reserved.
Nós já publicamos neste Blog, um artigo com o título Por Que Marte? A pergunta parece fazer muito sentido, já que nosso vizinho cósmico é um planeta estéril, com atmosfera tóxica e rarefeita e está a uma distância de centenas de milhões de quilômetros de nós.
Por estar mais distante do sol, o ano marciano é mais longo do que o nosso, correspondendo a cerca de 1,9 ano terrestre. Marte é o segundo menor planeta do sistema solar e recebeu esse nome em homenagem ao deus grego da guerra. Se pudéssemos passear por sua superfície, poderíamos olhar para o céu à noite e contemplar suas luas (Fobos e Deimos). Ainda, por possuir um campo magnético, lá também poderíamos observar as Auroras. Já tratamos de Auroras aqui.
O blog Pint of Science quis saber do jornalista científico Salvador Nogueira, qual a opinião dele, sobre as razões da exploração humana ao Planeta Vermelho: “Há incontáveis razões científicas para ir a Marte”, diz Nogueira. “A busca por evidência de vida passada ou presente. Ou entender como o planeta passou de habitável a inabitável e quais as consequências para nossa compreensão de nosso planeta. Mas a principal razão é que é isso que os humanos fazem – está em nosso DNA sempre buscar a próxima fronteira. E podemos acabar nos vendo com uma nobre missão de longo prazo: a de espalhar a vida pelo universo. Marte é o primeiro ponto de parada nesse caminho”. Que seja o primeiro de inúmeros.
Salvador Nogueira, o Mensageiro Sideral, é jornalista científico, colunista da Folha de São Paulo e da revista Scientific American Brasil, já trabalhou também na Globo News e possui o canal Mensageiro Sideral no YouTube.
Mas como podemos saber se já houve vida em Marte? Nós seríamos capazes de identificar outras formas de vida, diferentes das que existem na Terra, se topássemos com elas? A melhor pessoa para nos dar essas respostas é a pesquisadora Amanda Gonçalves Bendia. Com Mestrado em Biofísica pela UFRJ, Doutorado em Microbiologia e Pós Doutoramento pelo Instituto Oceanográfico da USP, Amanda nos explica: “Os cientistas buscam detectar as chamadas bioassinaturas, que seriam quaisquer moléculas e estruturas que indicam uma origem a partir de um ser vivo, como por exemplo as estruturas fósseis. Essa detecção é um desafio para os cientistas, uma vez que muitas vezes não é tão simples[...]. Desse modo, a princípio, os cientistas da NASA irão buscar estruturas parecidas com as que conhecemos. Até mesmo porque, se existir uma forma de vida muito diferente do que conhecemos, será que conseguiríamos detectá-la?” Amanda não é tão otimista “ainda não sabemos. Para responder a essa questão, teríamos que entender mais sobre uma das maiores perguntas da humanidade, e que a ciência ainda não nos trouxe todas as respostas: o que é a vida?”
Doutora Amanda Gonçalves Bendia, Mestre em Biofísica pela UFRJ, tem Doutorado em Microbiologia pela USP e Pós-Doutorado pelo Instituto Oceanográfico da USP.
Ainda temos outro imenso desafio a superar: um ano marciano equivale a quase dois anos terrestres. Isso significa que quando uma nave terráquea chegar a Marte, após 7 meses de viagem, a Terra já terá completado mais de metade de sua órbita em torno do Sol, enquanto Marte terá percorrido apenas 30% dessa trajetória.
A distância média entre a Terra e a lua é de 380 mil km, entre a Terra e o sol, são 150 milhões de km. Já entre a Terra e Marte, quando ambos estão alinhados no mesmo lado do Sol, é de quase 230 milhões de quilômetros, mas quando os planetas estão em lados opostos do Sol, essa distância sobe para 530 milhões de quilômetros, o que inviabilizaria a viagem de retorno nesse momento. A alternativa encontrada é aguardar que os dois planetas se aproximem novamente, o que leva outros 15 meses, para então os astronautas de uma eventual missão tripulada, poderem iniciar sua viagem de 7 meses de retorno à Terra. Ou seja, seriam quase 3 anos no total – um desafio tremendo, se lembrarmos que a tripulação precisa ser alimentada, abastecida com oxigênio, alguém pode adoecer, etc.
Engenheiros e cientistas de todas as agências espaciais têm se debruçado sobre esse problema em busca de soluções. A missão Mars2020 da NASA deve chegar a Marte em fevereiro do próximo ano. Vai deixar um robô na superfície do planeta, que irá coletar amostras do solo, e armazená-las em tubos herméticos na superfície, aguardando para serem resgatados e trazidos de volta à Terra, para análise. Como o lançamento da missão de resgate dessas amostras está previsto para o ano de 2030, os cientistas e engenheiros têm esta década para resolver o problema de como encurtar o tempo de viagem e tentar enviar uma missão tripulada.
Nesse contexto, empresas privadas como Blue Origin, Virgin Galactic, e a SpaceX do bilionário Elon Musk, têm se dedicado a investir no desenvolvimento de novas tecnologias que permitam baratear as viagens espaciais. Segundo o engenheiro espacial brasileiro Lucas Fonseca, que já trabalhou na Agência Espacial Europeia e hoje é empreendedor espacial: “A tecnologia espacial ainda é baseada na mesma tecnologia desenvolvida na década de 40. Precisamos queimar combustível químico para impulsionar nossos foguetes. Claro que existem muitas tecnologias sendo desenvolvidas e algumas até em prática, como é o caso de motores espaciais que se utilizam de íons em seus propulsores. Mas nada substitui até agora, a quantidade de energia necessária para vencermos a gravidade do planeta e continuamos dependentes dos velhos combustíveis químicos.”
Lucas Fonseca é engenheiro espacial, Diretor executiva da Airvantis e Diretor da Missão Garatéa.
Mais do que os avanços tecnológicos, o que tem impulsionado a nova corrida espacial, é o barateamento dos custos das missões. Lucas prossegue: “Hoje em dia, com essa nova fase da conquista espacial, inaugurada pelos foguetes da SpaceX, podemos acessar o espaço com um custo bem menor, o que possibilita às agências espaciais como a NASA, pensarem além do que era possível até uma década atrás. Podemos não encurtar o tempo para Marte por hora, mas com certeza estamos com um bilhete de ida mais barato”.
Mas e o Brasil? O Brasil há décadas patina em seu programa espacial, apesar de ter formado grandes cientistas, que são aproveitados por agências espaciais de outros países. Universidades brasileiras estão envolvidas em projetos de nano-satélites, que precisam pegar carona em foguetes de outros países para serem colocados em órbita. Cientistas brasileiros são contratados pela NASA, pela Agência Espacial Europeia (ESA), ou pela Japonesa (JAXA). A Agência Espacial Brasileira (AEB), já teve pretensões grandiosas no passado, mas depois de diversos entraves como cortes de verbas, um acidente fatal em sua base de lançamento e ainda o próprio desinteresse governamental, essas pretensões foram relegadas a terceiro plano nas políticas estratégicas brasileiras. Uma pena, já que sabemos que os países que detiverem o conhecimento de ciências e tecnologias de ponta, serão as nações que deverão ditar os rumos da humanidade durante as próximas décadas. Impossível não lembrar das palavras do astrônomo Carl Sagan: “Vivemos numa sociedade altamente dependente de Ciência e Tecnologia, em que as pessoas não sabem quase nada de Ciência e Tecnologia”.
Curtiu? Então aproveite para ouvir mais sobre o assunto com a Amanda Bendia, Lucas Fonseca e Salvador Nogueira no Pint of Science Diadema! O evento é dia 09/09 às 18:30 e você pode assistir https://m.youtube.com/watch?fbclid=IwAR05FkJB9si-Y8CNEe8oZT0glHfFi-ahShbmLIWxsFuibBFp7vW96Vmqb6w&feature=share&v=9EXmbB-bFaw
Já está disponível a quarta edição do gibi Dona Ciência para leitura e download!
Este texto foi escrito por Roger Bonsaver, coordenador do Pint of Science Diadema, membro da Rede Brasileira de Jornalistas e Divulgadores de Ciências (RedeComCiência), editor da página Space Today e voluntário no Observatório Astronômico de Diadema.